04/12/2010

Da minha janela...

Estamos na época das mangas e onde moro tem uma mangueira próxima à janela, aliás ela é responsável pela sombra que me protege do sol da tarde que bate exatamente deste lado. Sempre a abençôo pela sombra e também pela generosidade na época das mangas. Ela é maravilhosa, abundante, e tenho certeza alimenta com seus frutos muitos dos que por aqui passam (ela fica fora do meu bloco em área pública) e a mim basta estender os braços, a manga é espada, uma manga comum, mas de uma doçura, que só experimentando! Seus frutos são sadios e deliciosos.

Isso é uma das belezas que vivemos em Brasília, por toda cidade temos árvores frutíferas e sempre a cidade está carregada de flores e frutos, caminhar pela cidade é sempre uma benção.

As fotos foram tiradas da minha janela, é lindo, não? Quanta fartura!






Ana Maria


29/11/2010

REFLEXÕES...



Ontem participei da festa de São Batuque, que pelo que entendi da proposta São Batuque é aquele que convida aos batuqueiros ou a quem quiser e sentir vontade a tocar seus tambores. Vários grupos se apresentaram e por trás dessa expressão senti o grito dos negros na sua luta pela liberdade, mas a liberdade de existir. E ai está o meu ponto de reflexão, que liberdade é essa que todos buscam? Porque acredito que não são os negros, que ainda se sentem excluídos, buscam, mas todos aqueles que se excluíram de si mesmos. O homem está "fora de si", numa busca incessante por um lugar ao sol, mas que lugar é esse?


Nos vejo hoje cercados por uma parafernália carregada de pragmatismos e uma corrida desvairada pela idéia de consumo, encarcerados aos condicionamentos que nos privam totalmente da possibilidade de Ser. Que liberdade é essa, que todos estão buscando? Liberdade que negros, brancos, homossexuais, indios, mulheres, crianças, viciados,  ricos e pobres, enfim, acredito, nós seres viventes, porque o tempo todo estamos a ouvir os gritos e expressões por todo o planeta em busca de algo... o que afinal?

Não seremos os homens perdidos de nós mesmos? Não será essa busca angustiante pelo poder a razão de estarmos totalmente perdidos, sem direção? Quem já chegou lá, não encontrou, quem está a caminho, não consegue encontrar, e quem ainda não começou não tem a menor idéia por onde começar. E enquanto nessa busca desesperada vamos atropelando o que vemos pela frente, o outro passou a ser o entrave do caminho, as informações chegam e são resultado de uma sociedade esquizofrênica, totalmente dissociada. Afinal o que resta disso tudo são pessoas fragmentadas, acolhidas por uma sociedade doente, e o que se consegue extrair disso tudo é de uma superficialidade assustadora. Estamos criando nossas próprias guerras, que começam nos nossos ambientes de sobrevivência, nas distancias da indiferença, nas pequenas mentiras, os gestos esquecidos pela falta de tempo, nas competições pessoais, que alimentados vão ganhando as proporções sociais, afinal, sociedade somos nós, ou VOCÊ se excluiu da sua?

Será que não estamos desejando nos incluir de onde nós mesmos nos excluimos? Não será esse o paradoxo? A ausência de nós mesmos, por termos esquecidos da dualidade que somos, não somos só matéria, mas somos trambém espíritos. Não será na compreensão do humano em nós, da integração de nossas dualidades e na apreensão do mistério que nos envolve  que o homem poderá se libertar? Que poderá encontrar dentro de si mesmo a liberdade e a paz tão procurada?


"Viver ultrapassa qualquer entendimento", dizia Clarice Lispector, e confiar nesse mistério, acredito, venha a ser o grande desafio do Ser nesse mundo pragmático que criamos para nós mesmos, ou seja, dar um passo para trás, respirar profundo, e dar-se conta de que o que precisa mudar é cada um dentro de si mesmo, modificando os hábitos, desaprendendo para aprender de novo, buscando um olhar mais inocente, para então uma nova sociedade surgir, não perfeita, mas humana. 

Ana Maria
imagem: http://reflexosereflexes.blogspot.com/

21/11/2010

Compaixão

"Quando entramos no mundo da compaixão acreditamos que há em nós algo maior que nós. O inimigo não é simplesmente o outro, no exterior. O inimigo, às vezes, é uma parte de nós mesmos, são lugares de nós que não amamos e este inimigo também precisa ser amado. Não com um amor de complacência mas com o reconhecimento da diferença, daquilo que nos custa aceitar."  ( Jean Yves Leloup)

Acredito que a compaixão seja o exercício mais difícil de se por em prática. É preciso que tenhamos um desprendimento muito grande do juizo em nós, aprender a olhar o outro na sua "outridade", respeitando seus limites e imperfeições, não o prendendo em suas expressões negativas. Para que possamos alcançar esse espaço dentro de nós é preciso antes ter aceitado nossas imperfeições, aprendido a integrar os aspectos opostos que nos compõem, saber que somos humanos e que temos em nós a luz e a sombra e que esses dois aspectos não se opõem mas se complementam. É ser capaz de resgatar o feminino, sendo homem ou mulher, dentro de nós, essa porção amorosa e sintética que nos habita para nos tornarmos conscientes de nossa inteireza. Geralmente estamos divididos, fragmentados, separados, é preciso aceitar e integrar o físico e o espiritual em nós. 
Segundo Jean Yves, "é preciso que unamos em nós a ação e a contemplação e quando encontrarmos esta possibilidade de união, descobriremos uma terceira etapa no caminho da sabedoria - a dimensão da compaixão."

Ana Maria
Imagem:coisasdabrenda.blogspot.com

13/11/2010

Caminhar...

           Acordei esta manhã já vislumbrando um desejo de caminhar, é algo como se o corpo sentisse essa necessidade. Sempre caminho, mas hoje senti que eu estava diferente.

         Tomei o café da manhã e finalmente sai.... enquanto caminhava sentia a leve brisa tocar meu rosto, uma sensação gostosa que me convidava a participar da natureza. Senti uma expansão, como se fizesse parte de tudo, o ar da manhã me cobriu de verde e o sol abençoava minha pele.

           Essa comunhão se deu durante todo o caminhar, uma estranheza gostosa aspirando algo novo, ouvia a música  dos pássaros enchendo o silêncio precioso que guardava esse instante.
           Ainda sinto a vibração desse instante, ele vibra no silêncio do aconchego solitário do meu lugar, um espaço reservado, também silencioso, onde emana o Ser.... Sendo. 


Ana Maria

07/11/2010

Plena Atenção - Ser Presente

"Mais rápidos que a água do rio,
que o vento do deserto, escoam-se
os dias. Dois não me interessam:
são o de ontem e o de amanhã.
Não te mergulhes no passado
nem no porvir. Teu pensamento
não vá além do presente instante!
Este é o segredo da paz".    (Omar Khayyam)

A cultura ocidental nos direciona a uma consciência compartimentalizada e fragmentada, isso dificulta o exercício da plena atenção, que não é uma pequena atenção centrada apenas no objeto de percepção seletiva e focada, mas sim, uma atenção ampliada, inclusiva, que acolhe por inteiro um universo de percepções. 

Estar presente é simplesmente "estar aqui e agora", presente naquilo que estamos realizando no momento. Estamos hoje tão automatizados, que nossas ações tornaram-se automáticas, ou seja, as realizamos sem ao menos percebê-las. Para sobrevivermos num ambiente exigente e pragmático perdemos o contato com nossa mente comtemplativa que nos permite uma visão mais ampliada do todo, deixamos de ouvir os pássaros, olhar para o céu, sentir o calor do sol, perceber o movimento natural e simplificado da natureza ao nosso redor, reduzindo e fechando as portas de nossa percepção global.

A plena atenção é estar desperto, é  não se apegar ao passado e nem ao futuro, que na verdade não existem, o que de fato existe é o agora e é aqui que precisamos realizar. Eu sempre digo que a melhor forma de meditar é sentir, abrir todos os canais sensitivos, se perceber acordar, escovar os dentes, sentir o cheiro do café, se vestir, caminhar, se deslocar, percebendo cada movimento e as sensações que seu corpo desperta em relação a eles, ampliar o olhar, sair na rua e VER o mundo ao redor, as pessoas, reaprender a tocar, sentir texturas, ampliar a escuta, sentir a energia. Por meio da plena atenção, segundo Roberto Crema,  "nos ancoramos no aqui-e-agora, que é transtemporal, contendo os germes do passado e do futuro, o único tempo-espaço real de edificação e transmutação".
   
Essa realidade parece-nos distante, e na verdade, é assim, pela nossa cultura, por nossos hábitos adquiridos. É preciso um esforço muito grande e também vontade para mudarmos hábitos antigos, nada é impossível. Procure colocar em prática primeiro em circunstâncias críticas, momentos de decisão ou emoções descontroladas, de raiva, ódio... primeiro torne-se conciente do problema (respire profundo) e fique atento se tornando testemunha do caos, afastando-se e desidentificando você abre um espaço interno que possibilita uma transformação.

Aos poucos, gradativamente, vá inserindo a plena atenção no seu dia a dia, desligando-se da mente tagarela e se ligando em cada ação presente, descobrindo um novo universo pessoal, carregado de significado e sentido, criando novas formas no viver, experimentando fazer coisas diferentes das habituais, buscando atitudes mais saudáveis, criativas. E não se assuste quando se perceber mais inteiro e feliz. 

Ana Maria

03/11/2010

Viajar

       Completei agora, no mês de outubro, 45 anos, imaginava o que poderia eu me dar de presente, é, PRESENTE, afinal não é todo dia que faço 45 anos. Pensei em várias formas de me presentear, mas esculpindo minhas fontes, procurei adentrar mais profundo e lembrar o que, durante minha existência,  eu dizia ser um sonho e que ainda não tinha realizado. É,  porque os últimos anos de minha vida tem sido grandes realizações, de coisas totalmente novas que jamais tinha sonhado, mas que a permissão foi me dando a oportunidade de realizar. Fui meditando na minha vastidão tentando descobrir o que eu realmente gostaria de fazer para celebrar esse momento, então lembrei que desde que me entendo por gente sempre disse que se existe algum lugar que eu gostaria de conhecer esse lugar é Fernando de Noronha, sempre disse isso, não tenho a menor idéia do porque.

Nada a programar, simplesmente uma passagem de ida para ver o que o universo me reservava, o dinheiro, era pouco? ou suficiente? Nada disso eu sabia, então melhor não marcar datas, só ir com o tempo. O destino, Natal, no Rio Grande do Norte, ali poderia sondar e explorar de perto possibilidades de ir e como ir para a Ilha.
        Cheguei em Pirangi do Norte, já tiinha deixado reservado numa pousada um lugar, só para uma "pseudo" segurança , mas que oferece um certo conforto. Fui muito bem acolhida e a noite o sono não foi profundo, e algo me incomodava, pela manhã fui dar uma volta pela praia e já ali, meu coração foi se abrindo e algo me dizia: "Ana, você ainda não chegou.". Voltei com a decisão de ir embora, para onde? Não sei, mas meu coração dizia: "Vá para Genipabu". Ok, então lá fui eu, no caminho já sentia uma energia diferente, e ao chegar em Genipabu, sem ao menos saber onde e como ficar, eu já sabia que ali era o lugar. Interessante isso, mas comigo é assim mesmo que acontece, nada de explicações, "viver ultrapassa qualquer entendimento", já dizia Clarisse Lispector.

         Mochila nas costas  e informações que me levassem para algum lugar, e assim cheguei em Genipabu. Consegui fechar com um preço bem acessível minha estadia numa pousada para 30 dias, ali seria um ponto de referencia que me daria oportunidade de conhecer o litoral rio Grandense praticamente todo e foi como aconteceu.
            Genipabu me acolheu nos braços, caminhei(muito) pelas praias de mãos dadas com a paz que envolvia meu espírito, andava por toda parte onde o silêncio brincava e as águas profundas cantavam. Esse encontro me fez lembrar minha vastidão, algo que me apurou o olhar, imagens que traduziram minha vacuidade, um vazio-cheio, carregado de significados. Assim vivi esses 30 dias, encontrando na simplicidade do lugar e no cotidiano ordinário... a beleza. Visitei a redondeza, Natal, Pipa, Jacumã, Touros, São Miguel do Gostoso, entre outros.

Durante esse mês, com os contatos, fui pesquisando as possibilidades de ir para Noronha, como ir. E como é natural hoje em dia, tudo convergia para os "pacotes de viagem", que desde o primeiro momento, essa possibilidade, para mim, estava descartada. Comprei as passagens pela internet, consegui um melhor preço, providenciei o pagamento da taxa de preservação, e marquei as datas, ficaria 6 dias na Ilha, tempo suficiente para conhecer, acreditava eu.
           Nunca me ocorreu de sair de um lugar com vontade de ficar, e foi exatamente o que aconteceu quando vim embora de Fernando de Noronha. A minha relação com a ilha foi de "comunhão", um lugar de mim mesma, caminhei muito, por toda a ilha e praias. Constatei que é possível sim, viajarmos com mais economia, desde que saiamos da "rota do turismo". Fui acolhida ao pisar na ilha,  fiquei numa pousada onde negociei um bom preço pelos 6 dias. Caminhar é uma forma de estabelecer relação mais profunda com o lugar, isso me fez ter contato com pessoas da própria ilha, assim como em Genipabu.

Conheci guias, bombeiros, pessoal da polícia, todos que trabalham ou vivem na ilha, isso me facilitou o acesso a tudo, ou seja, não paguei  pelos passeios, fazia sozinha, caminhando. Com os guias que conheci  fiz alguns mergulhos superficiais, que sozinha não teria coragem, apesar de poder fazê-los alugando o material, que eles gentilmente me emprestaram e me guiaram, com outro contato (bombeiro que trabalha na Ilha) conheci Atalaia, a única praia que não se tem acesso, somente com guia, fui com ele sem custo e fiz o mergulho para ver o naufrágio no Porto. A alimentação, que é muito cara, com os contatos consegui um restaurante onde comi bem e muito barato em relação ao que é cobrado na ilha. Mas se entrar na "rota" pagará por todos os passeios, eles vivem dessa exploração, se perguntar se pode fazer sozinho, eles dirão que não e que precisará de um guia... LÓGICO.

          Quanto a beleza do lugar, não existe palavras para expressar, é MARAVILHOSO, é cinematográfico, de uma exuberância impar pelas águas transparentes. O que me encantou foi a energia do lugar, pode-se andar por toda a ilha, trilhas, praias, a qualquer hora, que não tem qualquer perigo, perguntei por cobras, na ilha, não tem. Os animais partilham seus espaços e fazem parte dele, até os tubarões são mansos (rsrsrs), caminhar e nadar com eles(animais) e entre eles faz parte.

E assim me presenteei, consegui realizar um "sonho" e permanecer tempo suficiente (40 dias) para conhecer, explorar e viver o cotidiano do lugar, sem gastar muito (dentro do meu orçamento). Confesso que o universo contribuiu muito, apesar de saber que é meu coração que estava aberto para que essa energia fluisse, eu me permiti receber esse presente.

Ana Maria 

12/09/2010

Doenças e Sintomas

"A existência é um tributo à vida organizado em formas vivas. Ser um indivíduo é seguir os impulsos da própria forma e aprender suas regras únicas de organização. Esse princípio de organização, esse imperativo para a forma é a linguagem do universo da sociedade e nossa própria linguagem." ( Stanley Keleman)




Nos deparamos hoje com o triste reconhecimento que a medicina moderna perdeu de vista a totalidade do ser humano. Diante da especialização e da fragmentação dos conceitos básicos de pesquisa, ampliou-se o conhecimento das partes mas, a totalidade do ser humano nesta busca foi totalmente perdida. A doença foi literalmente compartimentalizada, deixando de fazer parte de um todo que envolve o ser humano.

Perceber que saúde e totalidade incluem mente e espírito e, compreender a grandeza e dignidade da doença e da morte, nos permitirá uma visão mais honesta e nos levará a pensar a doença como uma desarmonia e que é essa perda de equilíbrio interior que se manifesta no corpo como sintoma.

Os sintomas são os sinais manifestados pelo corpo e nos transmitem a mensagem de que algo está em desarmonia, ou seja, é a expressão visível de um processo invisível, que vem interromper nosso caminho, como uma advertência de que alguma coisa não está em ordem. Podemos simplesmente resolver de forma paliativa o sintoma, mas na verdade ele nos convida a examinar com mais profundidade, a fim de compreendermos para onde está nos convidando a olhar.

As medicinas, seja ela tradicional, terapêutica, ou seja, "natural", tentam alcançar suas metas através de medidas funcionais impedindo a doença, o conceito entre elas constitui-se o mesmo, divergindo apenas na metodologia, sendo uma menos tóxica e mais natural. No entanto, elas evitam interpretar o sintoma, e assim condena o sintoma e a doença ao vazio de significado. Com isso perde-se a função do sintoma que é sinalizar uma desarmonia, transformando-os em sinais sem significado.

A doença é somente outra manifestação da vida, são oportunidades de crescimento da alma. Nossas células precisam tornar-se conscientes de nossas mudanças para que possam abandonar velhas formas de comportamento. O entendimento consciente da experiência pode acelerar o processo de cura.

É importante que façamos uma análise mais profunda do sintoma manifestado. O desequilíbrio pode ocorrer em qualquer nível e é necessário nos abrirmos e nos disponibilizarmos para sermos capazes de interpretar a mensagem. Muitas vezes os 'recados' são óbvios, basta que tenhamos olhos para ver, ouvidos para escutar e sabedoria para compreender.

A diferença entre combater a doença e transmutar a doença reside na compreensão de que saúde é harmonia. A cura pressupõe a incorporação daquilo que está faltando para restabelecer a harmonia. A própria doença é o caminho pelo qual o ser humano pode seguir rumo à cura.
O objetivo maior é reconhecer e aceitar todas as partes de nosso ser, usando a doença como um caminho, para ampliarmos nossa consciência na busca da totalidade e saúde. 

    Ana Maria

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07/09/2010

ESCOLHAS

"A longa história da humanidade seria movida por essas duas necessidades conflitantes: Por um lado seríamos impelidos a vencer nossos medos pela força de nossas intuições, pela visão de que vivemos para realizar um objetivo específico: fazer a cultura avançar numa direção positiva que só nós, como indivíduos, agindo com coragem e sabedoria podemos inspirar. A força desses sentimentos nos lembraria que, por mais insegura que parecesse a vida, nós, na verdade, não estávamos sós, que havia uma finalidade e um significado por trás do mistério da existência.
Mas, por outro lado, freqüentemente caíamos no extremo oposto, a necessidade de nos proteger do medo, às vezes perdendo de vista o objetivo, dominados pela angústia da separação e do abandono. Esse medo nos transformaria em seres assustados e na defensiva, lutando para manter nossas posições de poder, roubando energia uns dos outros e sempre resistindo a mudanças e à  evolução, independentemente da qualidade das nossas informações disponíveis." (James Redfield - A Décima Profecia)

A vida constantemente nos coloca diante de uma encruzilhada, onde a única opção que temos é a escolha. Os momentos de escolha não são fáceis. Os desafios apresentados precisam de um ato de fé e coragem da pessoa que faz a escolha. Geralmente nos vemos diante de situações que nos levam inexoravelmente a fazer uma escolha, isso exige de nós responsabilidade, um momento em que devemos abandonar  a idéia de que há escolhas certas ou erradas e que há apenas escolha, e  que precisamos  escolher, simplesmente.

Vivemos num sistema, onde a cultura e os valores não nos ensinam  a acreditar na existência e nos seus mistérios, acreditar na força de SER e existir, sermos responsáveis e receptivos ao desconhecido.  Fomos condicionados a ter medo, sentimos muito medo, de não sermos aceitos, de não sermos amados, de não sermos adequados, medo das perdas e do abandono, e isso nos leva a escolhas infelizes, sufocantes,  nos apegamos ao conhecido  por ser mais fácil e confortável continuar com o que se conhece, mesmo que seja ruim, mesmo que paguemos um alto preço, porque não sabemos o que nos espera e CONFIAR é um exercício que não aprendemos.

No texto acima, James Redfield, aborda sobre a existência, os dois caminhos que nós, humanos, temos que enfrentar durante o nosso existir, podemos escolher, e essa escolha não depende de tempo, idade ou gênero, ela pode acontecer a qualquer momento, desde que aprendamos ser responsáveis. Precisamos saber o momento de estar prontos para assumir responsabilidades, ter coragem de entrar em contato com nosso eu profundo e buscar lá dentro a nossa verdade.
O caminho para alimentar a totalidade é reconhecer onde você está e relaxar.  CONFIAR  que somos capazes de fazer boas escolhas, conceder-nos tempo e espaço, sem pressionar, sem censurar, sem se culpar. Quando relaxamos, somos visitados por uma clareza que nos mostra o que nos é necessário, precisamos aceitar o desconhecido, e seja qual for nossa escolha ela trará algo valioso, pode não ser o que esperam de nós, mas simplesmente é o que nos faz FELIZ.

   Ana Maria

Imagem 1:  bulimunda.wordpress.com
Imagem 2:  wilsonnanini.blogspot.com


03/09/2010

Processo Criativo - Trabalhando a massa

Material: a massa - papel marchê


"...Assim, o sonho da mão põe um prado sobre o mar. Como em todos os grandes sonhos, as imagens elevam-se ao nível de um universo. Uma maciez cósmica enche e depois rodeia o punho que está amassando. A primavera perfumada nasce na mão feliz." (Gaston Bachelard)



A preparação é o ritual iniciático, preparar a goma, triturar o jornal, misturar tudo com cola e amassar. A única coisa que sei é que minha necessidade parte do trabalhar a massa, sinto que é isso que quero fazer, o restante desde  que me proponho a fazer  vem chegando, no amassar e preparar a massa, na escolha da cor, será que escolhi? não me lembro..., acredito que veio de algo profundo, ou seja, da necessidade.
Viver essa experiência me fez entrar em contato com minha intimidade, ir na minha infância e lembrar o contato íntimo com a terra. O ato de amassar me fez viver o toque, perceber a textura, conhecer a massa e refletir possibilidades....
Como tudo é experimentação, chegou a hora de lançar-me ao desconhecido, um material novo, idéias que podem ou não serem acolhidas pelo material, então, me resta arriscar e me expor.... mais uma luta interna, vencer o medo da ousadia, da exposição... do novo. Somar materiais a essa matéria, como fazer, o que fazer, só a experiência poderia me responder, teria que arriscar, e errar ou não...
O papel marche reage. Enquanto na construção ele recebe, aceita e dá uma "certa" forma, quando seco ele reage e muda tudo, lidar com a instabilidade foi outra etapa, quando construimos, idealizamos, vem a "vida" e muda tudo e ai o que nos resta??? ACEITAR. E assim se deu essa luta, quando molhada tinha uma forma idealizada, ou realizada, e depois de seco, estava lá o que era meu (idealizado) e mais o que era da matéria (realizado) numa nova forma, bonita também, mas diferente...
Oh! Frustração! E minhas expectativas onde estão?
Olhar o novo, perceber-me nele e inexoravelmente o resultado da relação estabelecida, não sou eu apenas, existe um relacionamento (matéria/Ana) - confesso que fui invadida por uma insegurança do resultado, mesmo gostando parecia querer ouvir do outro uma "opinião", uma aprovação?, parecia naquele momento ser visitada por algo interno que me dizia que poderia ter feito melhor e uma série de sentimentos de menos valia me infernizaram, criaram ansiedade e ao mesmo tempo me levaram a profundas reflexões:  O que ainda tenho medo? Porque não confio sufientemente naquilo que faço? Sei que não está ruim, mas porque sempre espero pela aprovação do outro? Que "mandato" é esse que carrego de menos valia? e dai por diante....
E mergulhada nessas reflexões , o processo e as elaborações foram acontecendo, cada realização (obra) me levava a questionamentos, um diálogo,  e aos poucos a uma nova consciência. Aprendi que é o encontro que nos traduz nas nossas mais insignificantes necessidades e carências, foi aprendendo a me olhar nas  deficiências que aprendi a olhar para o outro no seu tamanho, sem esperar, mas aceitando, Foi me aceitando que pude aos poucos ir fechando as feridas que ainda se encontravam abertas e que eu esperava que o outro pudesse resolvê-las, Aprendi a RESPEITAR a mim e aos meus limites  e ao outro, e consequentemente aprendi a AMAR a mim em minhas próprias vicissitudes para me abrir ao outro e poder vê-lo com os olhos do amor.
Foi assim que comecei a descobrir meu verdadeiro talento, minha vocação, que estava lá em algum lugar de minha alma e que as condições de minha vida me levaram a esquecer, não vou dizer que as mudanças foram fáceis, não foram, muitas lágrimas, muita dor, mas em contrapartida me via sair de cada "crise" mais fortalecida e mais consciente de mim mesma. Não diria jamais que já estou realizada ou algo está concretizado, longe disso, quero morrer descobrindo-me e revelando-me... como? VIVENDO. Porque de todo o aprendizado que tive, a minha grande jóia foi perceber que só mudamos quando nos propomos a fazer diferente e FAZER, assim experimentamos e podemos escolher conscientes.

Ana Maria

26/08/2010

Deusa Fréia

Hoje resolvi tirar uma carta do tarô "O Oráculo da Deusa", já que esta semana  é de lua cheia, na terça houve a celebração  às Deusas dos Mares, dando continuidade ao processo vivido, escolhi o tarô das deusas para uma carta, que compartilho com vocês. A carta tirada foi  FRÉIA- sexualidade.  

Houve um tempo
no início
um tempo em que não havia nada
um tempo em que eu dançava
minha dança da sexualidade
a energia da criação
e com essa dança
oferecia ao Todo a minha dádiva
A sexualidade trouxe união comigo
com a Deusa
com o êxtase espiritual
A sexualidade curou e integrou
regenerou e revigorou
A sexualidade entrelaçou você na rede de todos os seres vivos
pois a vida existre para expressar a si mesma
Nova vida
Vitalidade
ritos de prazer
possibilidade ilimitada
o que quer  que você escolha
a sexualidade é a dança expressiva da vida
e sua maior dádiva

Mitologia
 Os europeus do norte chamaram sua deusa sensual de FRÉIA, que significa "concumbina"e deram seu nome para o sexto dia da semana, a sexta-feira, ou friday. Ela era a regente ancestral dos deuses mais velhos, ou Vanir. Ela e Frigga são dois aspectos da Grande Deusa. Fréia é o aspecto donzela, e Frigga, o aspecto materno. Fréia não discrimina ao escolher amantes: todos os deuses eram jogo limpo. Quando Fréia aparecia envolta em seu manto de plumas e não usando nada a não ser seu colar mágico de âmbar, ninguém podia resistir a ela.

Significado da carta

 Fréia está aqui para ajudá-la a respeitar a sua sexualidade. Está na hora de você se ligar a essa energia vital, primordial, espiritual e revigorante e expressá-la, tenha ou não um parceiro. Trata-se de estar plenamente presente no corpo. Não só os ombros ou a cabeça, mas também o clítoris, o ânus, os seios e os pés. Trata-se de sentir a energia vibrante, elétrica nos orgãos sexuais e usá-la para animar seu ser.
Você anda sentindo que a sexualidade é enorme ou assustadora demais ou representa um tabu? Você tem medo de que viver e amar a sua sexualidade a impede de ser "uma boa menina"? As advertências que você recebeu na adolescência a estão impedindo de explorar sua sexualidade? Você tem estado ocupada demais, sem tempo para a sexualidade? Você sente que o sexo exige um parceiro e que, se não estiver com alguém, não pode desfrutar sua sexualidade? Fréia diz que, quando você vive a sexualidade, você se abre para a energia dinâmica que flui em toda criação. Quando você se retrai, se exclui, se desliga da sexualidade, limita suas possibilidades de entrar em contato com a energia da deusa, que lhe traz mais vitalidade. O caminho para a totalidade deve incluir todos os seus aspectos, e a sexualidade é um aspecto importante.

Na verdade, é interessante refletir sobre nossa sexualidade, como estamos lidando com nossa energia sexual, criativa. O que isso tem refletido em nossas vidas, ou se estamos nos esquecendo da sua importância.  É um assunto, que para nós mulheres, ainda pode representar um tabu, mas sabemos trambém que reprimir essa energia não é a melhor opção. Olhemos para isso, vejamos a possibilidade de trabalhar esses aspectos internos de forma que possamos ter uma vida saudável, mais intensa e feliz. Aproveitem a dica e façam uma reflexão a respeito.         Ana Maria

18/08/2010

Chacras - Centros de Força

           Os Centros de Força são grandes vórtices de energia que geram qualidades vibratórias específicas e estimulam todas as funções do corpo, sejam elas orgânicas, emocionais, comportamentais ou espirituais. São formados pela junção de "Nadis" - pontos que individualizam, qualificam, diferenciam ou associam os pulsos energéticos. Um nadi é um pequeno vórtice de energia, um pulso energético gerado em cada um dos milhares de entrecruzamentos dos canais que constituem o Corpo Etérico.
          Embora alguns Centros de força tenham funções mais sensoriais ou de vibração mais sutil da energia e outros tenham funções em um nível de consciência mais consciente ou na vibração mais densa do corpo físico, nenhum deles tem função mais importante que o outro. Todos processam na mesma intensidade o que se registra em cada uma das células que compõem o corpo físico e todos vibram a memória da vida do indivíduoi nesta e em outras experiências.

O 1º Centro de Força é chamado "Centro de Força da Sobrevivência". É responsável tanto pela adaptação da energia à forma humana quanto pela adaptação da forma física ao planeta terra. Possibilita que a energia se materialize e indiviudualize e trabalhe para garantir a sobrevivência do que é corporificado.
Localiza-se  na área perineal, corresponde às glândulas supra-renais e se relaciona com as vértebras coccígeas. O 1º Centro vibra a cor vermelho carmesim, necessita da foirça energética de 4 nadis ou "pétalas" para o desenvolvimento das suas funções e, no plano orgânico, se associa ao intestino grosso e ao rins.
O elemento que ativa e movimenta suas funções é a terra, que possibilita a experiência de contato através dos pés com o solo, o desenvolvimento da postura bípede e o caminhar seguro, conduzindo o corpo pela própria vida.

O 2ºCentro de Força - é chamado "Centro de Força da Sexualidade" e é responsável pela organização da saúde. Associa a saúde à experiência de prazer e a vitalidade à capacidade de trabalho, sem que haja desgaste ou cansaço.
Corresponde às glândulas sexuais ou gônadas, situa-se na área pubiana, à altura da 4ª vértebra sacral e, no plano orgânico, associa-se aos orgãos genitais. Vibra a cor laranja e necessita, para desenvolver suas funções, da força energética de seis nadis.
 O elemento que o ativa é a água, que estimula no indivíduo o contato com a experiência intrauterina, permite o acesso aos conteúdos da memória celular e favorece o desejo de continuidade daquela experiência através da reprodução.

O 3º Centro de Força é o centro de "Força da Identidade e da Individualidade". É ele quem estimula a consciência de integridade do "Eu" e a percepção e o desenvolvimento dos sentimentos de unicidade e singularidade.
Situado na área do umbigo, à altura da 4ª vértebra lombar, tem o pâncreas como sua glândula de correspondência e associa-se, no plano orgânico, ao fígado e ao baço. Irradia a cor amarela e necessita da potência de 10 nadis para o desenvolvimento das suas funções. O fogo é seu elemento de ativação e estimula, no indivíduo, a experiência do auto conhecimento, da autonomia  e do desejo de se mostrar e se expressar.

O 4º Centro de Força o "Centro de Força da Emocionalidade", movimenta os impulsos relacionados ao sentimento de amor. Antes, o afeto e o amor por si mesmo, que se direciona à aceitação da própria identidade e, a seguir, a aceitação, o afeto e o amor que podem ser dirigidos ao outro.
Localiza-se no tórax, à altura da 6ª vértebra torácica e à esquerda do osso esterno. A glândula que traduz suas vibrações é o Timo e suas funções se associam às funções orgânicas do coração e dos pulmões. Vibra a cor rosa e necessita da força energética de 12 nadis para desenvolver seus processos. 
Seu elemento é o ar, que estimula o desejo e o movimento de troca, a expressão das emoções e dos afetos e a permissão à experiência de se fazer inteiro na relação com o externo, também por inteiro, dentro de si. 

O 5º Centro de Força é chamado "Centro da Expressão Criativa". Associa as várias formas de expressão e comunicação ao desejo de renovação e à experiência de sutilização da criatividade e da sexualidade. Evolui as funções do 2º Centro.
Localiza-se na face anterior do pescoço, à altura da 4ª vértebra cervical. Corresponde à glândula Tireóide, irradia a cor azul celeste e necessita da força energética de 16 "nadis" para o desenvolvimento das suas funções.
O elemento relacionado ao quinto centro é o éter, plano vibracional que permite o trânsito das ondas sonoras. Seus impulsos favorecem o ouvir e o falar de si mesmo e a experiência de expressão e materialização daquilo que é próprio e verdadeiro na identidade e na individualidade.

O 6º Centro de Força "Centro de Força da Percepção e Síntese", localiza-se na glabela - entre as sombrancelhas- na região a que se atribui a presença do 3º olho. Amplia o processo de compreensão de si mesmo e do mundo; desenvolve a intuição, a telepatia e a inteligência; faz a integração entre o mundo interno e o externo e associa e integra a razão e a emoção.
Sua glândula de correspondência é a Hipófise (pituitária). Vibra a cor azul índigo e necessita, para desenvolver suas funçoes, da potência de 98 nadis.

O 7º Centro de Força  é o "Centro da Espiritualidade".  É ele quem estimula a evolução e a ampliação dos níveis de consciência e ativa o desejo de contato consciente e experiência com as vibrações do plano espiritual. É ele que, através da ação presente, propicia a transmutação e a transcendência da matéria.
Situa-se no topo da cabeça, irradia a cor violeta e desenvolve suas funções a partir da força energética de 1000 nadis. traduz suas vibrações através das glânculas Pineal (Epífise), a responsável pela incorporação do metabolismo da luz.
Estimula o indivíduo à posse de todo conhecimento que lhe é transmitido através do sentir e ao uso dos recursos oriundos do contato com o divino e materializados para o desenvolvimento de uma vida progressivamente melhor, mais prazeroza e plena.

          A função dos Centros de Força superiores está também registrada nos Centros de Força inferiores e é necessário que estes sejam ativados para que os superiores possam exercer satisfatóriamente suas funções. Há hierarquia e especificidade de funções, mas não há predomínio ou distinção de valor na tarefa realizada. Os centros superiores processam o conhecimento e mobilizam o conhecimento concreto nos centros inferiores; mobilizados no conhecimento do plano concreto, eles reativam o desejo de mais conhecer e acessar os níveis sutis do conhecimento.
           Todos os centros de força processam, de forma basal ou sensorial, o objetivo comum de aproveitar o máximo a vida na matéria, de bem viver a forma física, entendendo que a forma é o instrumento de aprendizado e conhecimento da energia.
           O fluxo nestes vórtices de energia evolui, em diferentes níveis, o sentir, o perceber e o expressar e, permite  que o Ser, "Energia Individualizada", sirva-se da forma material para desenvolver os caminhos que conduzem a realização plena, em energia ou forma, com saúde física e emocional no exercício do viver, do ser e do estar.
            A energia não é algo hipotético, inatingível ou esotérico... a vibração amorosa, evolutiva dos Centros de Força nos impulsiona e se desenvolve quando a utilizamos nas atividades do dia-a-dia, independente de nossa crença, posição social ou grau de estudo.

Texto elaborado por: Rizza C. D'Ávila, extraido e resumido da Revista Seja! Leitura Corporal em revista.
  


06/08/2010

A Chave dos Labirintos

Realmente  fantástica a viagem  além dos 7 pecados, uma metáfora onde a ira, a gula, a inveja, a avareza, a luxúria, a indolência e o orgulho se encontram com seus opostos, ali mesmo, naquele ponto onde nossas escolhas são fundamentais ao nosso crescimento. Acely Hovelacque nos conta uma bela aventura, que para aqueles que buscam, seria lamentável perder essa instigante viagem rumo à beleza do grande mistério da existência. Recomendo, é uma leitura gostosa, lúdica e "fantástica".

Livro: A chave dos Labirintos - uma viagem fantástica além dos 7 pecados./Acely Hovelacque/Ed. Marco Zero

Ana Maria

27/07/2010

Mandalas

           Mandala, em sânscrito, significa círculo. Jung associava as mandalas ao self, o centro da personalidade como um todo. No âmbito dos costumes religiosos ou da psicologia, designa imagens circulares que são desenhadas, pintadas, configuradas plasticamente ou dançadas. Não existem registros de sua origem, todavia, os motivos circulares são encontrados desde a antiguidade, nos desenhos das cavernas pré-históricas ou, ainda que simplificados, nas rosáceas das antigas catedrais, bem assim na natureza e no corpo humano.

         Quando desenho mandalas, as imagens não precedem de nenhuma sugestão. Elas surgem espontaneamente, originadas de uma fonte inconsciente. Essas imagens são uma ponte entre o inconsciente e a consciência, ou seja, é uma forma que o inconsciente encontra de se comunicar com a consciência, através de uma linguagem simbólica. A respeito do tema, Jung diz que “a união dos opostos num nível mais alto de consciência, não é uma questão racional e muito menos uma questão de vontade, mas um processo de desenvolvimento psíquico, que se exprime em símbolos”.

            A existência depende de nosso histórico de vida: quando ampliamos essa consciência, integrando esse inconsciente que nos é inerente, ultrapassamos nossa historicidade, dando à nossa vida maior significado e compreensão dessa complexidade que somos.

            Todos nós precisamos de um momento, um dia, ou uma hora reservada para, simplesmente, vivenciar e trazer à tona o que realmente somos. Hoje, nossas vidas se orientam pela praticidade e pelo consumo, a ponto de nos envolvermos tanto com essa “roda viva”, e nos esquecermos daquilo que são nossas intenções genuínas. Precisamos encontrar os caminhos que nos levam a esse espaço sagrado, seja por meio da música, da dança, dos desenhos ou de qualquer coisa que realmente gostamos de fazer. Podemos pensar, em um primeiro momento, que nada acontece; mas se nos permitirmos gozar desse espaço sagrado e nos servirmos dele para que possamos entrar em contato com nosso eu, ouvir o corpo, perceber as emoções, com certeza estaremos nos reservando a oportunidade de irmos ao encontro das lembranças que nos aproximam daquilo que nos é essencial.

Ana Maria Pereira de Freitas 
 

19/07/2010

Sunshine - O Despertar de um Século

Sunshine - O Despertar de um Século


Este drama épico conta a história de várias gerações de uma mesma família de judeus na Hungria. De origem humilde, os Sonnenschein chegam a ter dinheiro e influência no início do século 20. O patriarca se torna um juiz de respeito, mas sua carreira é afetada quando medidas anti-semitas são tomadas pelo governo. Seu filho se converte ao cristianismo para escapar às perseguições, mas mesmo assim se torna uma vítima do nazismo. O neto sobrevive à guerra e toma suas origens como o que tem de mais importante. Ralph Fiennes interpreta três homens de diferentes gerações da família.


Meu olhar através do filme parte do viés da psicologia. Depois de assistir o filme Sunshine mergulhei numa reflexão a qual partilho com vocês. No filme vemos uma família de judeus nas suas diversas gerações tentando se enquadrar ao "status quor" do momento em que estão vivendo, percebemos como essa adaptação (assimilação - como é usado no filme)  levam essas pessoas a questionarem seus destinos e muitas vezes a pagarem um alto preço, até mesmo com a vida, de formas trágicas,  o que geralmente acontece. 
              Minha reflexão parte de um questionamento: O que mudou no comportamento do homem no decorrer dos séculos? Percebo que o que mudou são apenas as roupagens, o contexto histórico, a tecnologia, a política, os ideais, mas de forma mais profunda carregamos o mesmo paradigma, estamos ainda tentando nos "adaptar" a uma cultura consumista, onde o "ter" é o que nos referencia diante de uma sociedade exclusivista, ainda tentamos nos moldar para conquistarmos o reconhecimento social e pessoal. No filme foi preciso viver várias gerações para se resgatar a origem e reconquistar o significado de estar vivo, fazendo uma analogia,  vejo que hoje essa sociedade que nos abriga também nos afasta de nossa verdadeirta essência, na tentativa de nos adaptarmos vamos distanciando do que temos de melhor em nós, vamos perdendo nossa verdadeira identidade e consequentemente nos distanciamos do sentido de nosso viver. Cada ser vivente tem o seu dom a cumprir, nos colocarmos como vítimas desse sistema só nos faz cada vez mais "ajustados", mas jamais realizados como pessoas e felizes. Passamos uma vida inteira buscando a felicidade nas coisas que nos cercam, e esquecemos de olhar onde ela realmente reside que é dentro de nós, nas nossas ações verdadeiras, na nossa liberdade de expressão, naquilo que somos em essência e que o mundo insiste em nos roubar. 
          O filme nos convida à reflexão, é carregado de pequenas colocações, que atentos, se pode questionar, tras um leque grande de possibilidades, é profundo, e pode nos levar a infinitas interpretações. Compartilho um pouco do que refleti a respeito, poderia me estender porque há muitos argumentos para discussão, mas me detive apenas num aspecto psicológico. O espaço está aberto aos comentários, inclusive áqueles que assistiram e o viram com outro olhar. Para aqueles que não assistiram, recomendo.
 Ana Maria

01/07/2010

CONSCIÊNCIA CORPORAL

“O corpo é um processo vivo, organizacional, que sente e reflete sobre sua própria continuidade e forma” (Stanley Keleman)

“Não é à consciência que o sujeito está condenado, mas ao corpo.” (J. Lacan)


Vivemos uma vida inteira aprendendo “coisas”, tudo nos é ensinado, como comer, como limpar, como fazer, como nos comportar, mas geralmente não aprendemos o corpo, a cuidar do corpo, a exercitar as necessidades do corpo, a escutar o corpo, a sentir o corpo. Aprendemos os cuidados com higiene mas nada num sentido mais profundo que vai além da higiene pessoal.

          É fundamental ao nosso equilíbrio que tenhamos uma consciência corporal mais abrangente. Aprender a ouvir e nos orientar através dos nossos sentidos, eles são nossas antenas, o que nos conecta ao mundo. O corpo não é um entrave, como muitos pensam, mas sim uma ferramenta poderosa que temos ao nosso alcance, é o que nos possibilita fazer a ligação entre matéria e espírito.

           O mundo moderno com sua tecnologia, e a poderosa cultura de consumo, nos fragmenta, nos materializa ao invés de humanizar. Não condeno a evolução industrial, só entendo que isso ao contrário de nos ajudar está nos destruindo, não porque seja ruim, mas porque não estamos sabendo usar a “máquina”, não podemos esquecer nossa humanidade, precisamos aprender a integrar o que separamos. O corpo exerce exatamente essa função, a de integrar. É através do corpo que existimos, é o corpo que nos abre à possibilidade do mistério, aquilo que não apreendemos mas sabemos que é, podemos viver uma vida inteira negando esse aspecto em nós, mas a única certeza que temos em nossa vida é que um dia vamos morrer. Não aprendemos a respeitar o processo de envelhecimento do corpo, que assim como a natureza, tem seu ciclo, e por mais que tentemos interferir nesse processo mais nos distanciamos da essência divina dentro de nós.

             O corpo, assim como a natureza, pede cuidados, é nossa casa, pede também atenção e respeito. Se aprendermos a ouvir o corpo, saberemos como estar no mundo. Mas para isso é necessário apreender cada parte do nosso corpo, a valorizar cada membro, cada órgão, cada músculo, cada forma, sem distinção, porque toda parte tem sua importância, cada uma exerce uma função fundamental ao seu bom funcionamento Aprendendo a relacionar com nosso corpo, ouvindo suas necessidades, aceitando e respeitando seus limites, percebendo suas funções e seu simbolismo, estaremos nos abrindo a uma nova consciência, mais ampla, mais significativa, para que então possamos integrar com o mundo e com o outro.


Ana Maria P. de Freitas

Imagem: http://sharkassimetrico.blogspot.com/2007/02/corpo.html

25/06/2010

RESPIRAR...

"Coluna perfumada, emergindo da floresta da inconsciência, o nariz evoca, pela presença sutil do perfume, a emanação do desabrochar interior, da deificação do homem" (Evaristo E. Miranda)

                É através da respiração que vamos  ao encontro do nosso desejo de envolver. Na inspiração nutrimos de afeto e amor nossos corações, fonte de acolhimento, sopro de vida, que ao expirar doa ao mundo e ao outro. Essa relação que nos dá a noção exata do como, quando e quanto nos envolver.
               É importante lembrar que nossa respiração é de fundamental importancia à saude do corpo e da alma, está relacionada ao nosso bem viver. A correria do dia a dia nos faz esquecer que precisamos respirar. Respirar profundo, enchendo de ar nossos pulmões, exercitando assim nossa árvore respiratória desde o nariz até a camada mais profunda de nossos pulmões. Esse exercício nos tranquiliza, nos torna mais centrados e também mais saudáveis.
              Há momentos em que nos encontramos agitados, assoberbados, nervosos... se pararmos um segundo e fizermos uma respiração profunda, seremos banhados por uma serenidade que pode trazer clareza para o momento e até mesmo a solução para aquilo que nos atormenta. 
             O controle de nossas emoções nos faz sentir medo do envolvimento, nos leva a inspirar com reserva e a não soltar todo o ar. Precisamos reaprender a respirar, isso nos devolve a confiança  no fluxo da vida e o prazer de aprender com ela.
             A respiração é vida, é fluxo, é energia de luz que emana afetividade e se traduz em expressão da nossa capacidade de envolver. Respirar é viver.

Ana Maria P. Freitas

Imagem: http://belafera.files.wordpress.com/2008/07/beijo-thumb.jpg
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